Terminei o curso oficialmente há cerca de duas semanas mas sinto que já ando a celebrar isto há 1 ano. Primeiro foi “a última aula do curso”, depois o “último exame”, mas ainda faltava o 6º ano. Seguiu-se a Noite da Medicina, onde celebrámos ter acabado o curso embora ainda faltasse a tese e mais 6 meses de estágios. Depois veio a queima, com a cartola e a bengala, mas ainda faltava a tese e um mês de estágio. Depois acabei o estágio mas faltava a tese. Depois acabou a tese e faltava… nada! Já estava! Mas com tanta celebração até fiquei com aquele pensamento “ainda deve faltar alguma coisa de certeza”. Se falta eu ainda não descobri o que é… Dito isto, tenho sentido uma mistura muito peculiar de sentimentos em relação a isto de já não ser estudante e gostava de os partilhar com vocês.
Felicidade de ter terminado estes 6 looongos anos
Demorou tanto a passar mas ao mesmo tempo parece que o tempo me escapou entre os dedos. Impossível não sentir felicidade e honestamente um grande orgulho de ter conseguido terminar esta etapa. Houve alturas mesmo difíceis, como em todos os cursos há de certeza, e por isso digo que foi um diploma tirado com muito sangue, suor, lágrimas e café…
Saudade dos meus dias como estudante
Ainda agora acabou, e já sinto alguma saudade desta vida de estudante: de fazer pausas do estudo que são mais longas que o estudo em si, de beber uma imperial numa tarde de sol antes do ensaio da tuna, de aparecer em todas as festas académicas com a consciência que no dia seguinte ia para a aula com olheiras e uma garrafa de água… Vivi muito bem a minha vida de estudante, não tenho dúvidas disso. Não mudava mesmo nada. E apesar de estar pronta para outras andanças, confesso que vou ter algumas saudades de andar com a capa nos ombros e de gritar pelas ruas de Lisboa que o melhor curso é o de medicina. Onde quer que a vida me leve, Lisboa vai ser sempre a minha cidade, aquela que me viu crescer durante 24 anos.
Ansiedade de poder fazer “o que eu quiser”
A maioria dos estudantes de medicina não se vai identificar com este sentimento porque tem uma prova muito importante para estudar, mas os outros estudantes talvez me compreendam melhor. Passei os últimos tempos a adiar imensa coisa com a desculpa de “quando acabar o curso é que a minha vida vai fazer sentido”, coisas do género: quando acabar o curso dedico-me ao blog, quando acabar o curso posso planear a minha viagem à Guatemala, quando acabar o curso posso finalmente dedicar-me ao exame de inglês que quero fazer… Até coisas mais simples como: quando acabar o curso é que vou fazer mais exercício físico, vou dormir melhor e arrumar o meu quarto. No fundo adiamos aqui uma data de tarefas (e sentimentos) para quando aquele grande obstáculo acabar, mas quando ele de facto acaba, e podemos fazer o que quisermos, vem uma ansiedade gigante que se resume a “posso fazer o que eu quiser mas eu sei lá o que quero fazer”. No fundo perdemos as nossas desculpas para não estarmos a fazer o que queremos, e agora só nos podemos culpar a nós. É incrível e assustador ao mesmo tempo.
Já desabafei sobre este tema com alguns amigos e fiquei feliz de saber que não estou sozinha. É bom saber que não sou a única para quem o fim do curso é um agridoce estranho, uma bolinha de sentimentos complexos, questões e inseguranças sobre o nosso futuro e o que queremos fazer dele. Foi bom saber que não sou a única que ainda se sente meio à deriva neste mundo de possibilidades.
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